Aprender sempre...

Ser mãe é ter a humildade de aceitar-se como fonte de vida de um ser que não nos pertence e, ao mesmo tempo, é tão nosso quanto qualquer outra parte de nosso corpo. Ser mãe é colecionar pérolas diárias, e por que não? Compartilhá-las...

domingo, 25 de julho de 2010

Pirulito não é flor.


Tem ano em que a gente planeja e planeja e nada sai como deveria. Pior é ano que começa com mau pressentimento e vai confirmando a suspeita mês a mês sem piedade. Nem festinha de aniversário resistiu, mas sempre há bons amigos perto para resolver a questão e te convencer a fazer um bolo, não importando o que tenha acontecido para trás... E assim foi, ainda bem! Mesa impecável, quatro tias superqueridas, papai, mamãe, irmã. O bolo com o visual escolhido pela protagonista e mais alguns detalhes rebuscados que foram apreciadíssimos. Pela aniversariante e suas convidadas. A mesa, com poucos recursos bem distribuídos e os presentes, simplesmente surpreendentes. As fotos saíram com ar retrô e tudo funcionou deliciosamente.
A família fez sua parte e organizou mais um parabéns!! Tudo funcionando, salvo que a guardiã mor da protagonista se ausentou e ela sentiu na pele o ciúme da primogênita da nova geração. Conflitos da vida que ensinam, mas doem.
O sorriso de sempre havia sido trocado por um grude pouco comum, uma indiferença inimaginável contra quem a incomodava e a busca de conforto em cada colinho adulto. Até a bisa entrou na dança.
Nem o encontro com papai cicatrizou a dorzinha, sono e manha se juntaram ao novo perfil.
Um prato de comida quentinha resolveria o problema. Sim, por uma hora e meia de breve soneca. O sono, perturbado pelas más lembranças do dia, tardou em ser recuperado. Mamadeira de leite, água, cobertor, tira cobertor, meia, tira meia, nada surtia efeito. O desabafo trouxe paz e terminou de despertar. Hora de contar historinhas..."Mamãe, vou te contar uma história". "Tá, filha, qual?" "A do peixe". Que história de peixe era essa??? Pergunta formulada, pergunta respondida. "Era uma vez um peixe que estava nadando na água" (ainda bem...)"E depois, meu amor?" "Aí ele nadou, nadou, nadou e fugiuuuuuuuuuuuu", narração acompanhada de braçadas e pernadas no colchão, e claro que o "iuuuuuuu" foi gritado. "Mamãe, conta uma historinha?" "Qual, querida?" "João e..." O pedido era João e Maria. OK. Quando João e Maria estavam indo pra floresta e levando pão pra deixar migalhas no caminho, deu-se o primeiro sinal de que era uma péssima idéia: "eles levaram queso y jamón também, jamón que se chama presunto, né mamãe?" Pronto, conjecturas bilingues em meu conto de fadas, hmpf. "É, filhinha". João e Maria continuaram seu passeio comendo misto frio, e a história precisa render para surtir efeito sonífero, e claro que isso se ganha nos detalhes. Muitos detalhes. Detalhes demais. Dispensáveis, aliás. Porque João e Maria chegaram à casa de doces e ela tinha um jardim. Um jardim lindo, brilhante e colorido, com flores de pirulito! "Flores de pirulito, mamãe?" E os olhos arregalados já em tom de chacota. "É meu amor, flores de pirulito, um monte". "Flor de pirulito??? Que nojooooooooo!!!Blãããã!" Esse "blã" é impagável e está registrado em filme em outra ocasião, porque todo mundo merece um dia ver. O nojo das flores de pirulito é que só mais tarde fui entender ser apenas o começo de uma noite bem longa de histórias non sense, até a mamãe entendiar a criança com seus próprios cochilos no meio das narrativas. E vencê-la pelo cansaço. Meu cansaço.
Mas aí acordei e fiquei pensando com meus botões: casa com porta de bolo, telhado de chantili e chão de gelatina pode. Mas flor é flor, pirulito é pirulito...

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