Aprender sempre...

Ser mãe é ter a humildade de aceitar-se como fonte de vida de um ser que não nos pertence e, ao mesmo tempo, é tão nosso quanto qualquer outra parte de nosso corpo. Ser mãe é colecionar pérolas diárias, e por que não? Compartilhá-las...

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Canibalismos...

Um odor característico no ar impregna a casa inteira com seu poder de repelente de pessoas. Cada segundo que tarda em ser expulso do ambiente, mais o contamina. A mãe, em sua prática diária de sarcasmo devidamente ensinado à cria, insinua: "hmmmmmmmmmmmm que perfuminho forte... hora de trocar o perfuminho". Cria devidamente condicionada a responder a sarcasmo, passando a mão na calça e em seguida no braço da mãe: "tó, mamãe, perfuminho pra você... passa mais... " Mãe com cara de depressão profunda escondida em vale. (Não vou usar o termo adequado por ser inadequado a um blog desse tipo)

Pouco antes de dormir, crianças devidamente vestidas de forma quente e aconchegante, e a mãe sem noção percebe que errou na indumentária. Nem está tão frio! Para a maior que implorava pela manta: "não vou te cobrir, você está muito abrigada, se coloco uma manta você vai acabar cozinhando e morrendo de calor. Nem vou colocar o cobertorzinho na sua irmã para ela não cozinhar também." Reação da pequena impressionada e choramingando: "mamãe, não cozinha a gente... nós somos muitos pequenas, não cozinha minha irmã, minha irmã e eu ainda não crescemos, não pode cozinhar a gente!!! Snif"

Quem sou eu? A bruxa de "João e Maria"?

Criança com sono é fogo... se não está fazendo malcriação, está falando incongruências.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Fofurices


Maridão está lá, sentado sossegado, de repente ganha abraço!!! Logo o olhar sapeca vai para a barriga proeminente. Segundos de silêncio esperando que classe de comentário será produzida... "Papai fofiiiiiiinhoooooooo" e mais abraço!!!! Sempre é surpreendente...

Aí a gente ensina, ensina... criança vira formiga, não tem jeito. Até a minha que sempre gostou mais de frutas, aprendeu a comer doce. Para dar uma freada aparecem histórias bem absurdas, afinal, passa longe de meus planos ensinar minha filha a ser uma neurótica contadora de calorias. Para controlar o doce, a pequena aprendeu que quem come doce demais vira bolinha de amora e pula-pula de Umpa Lumpa. Informação assimilada, agora as duas irmãs se controlam sozinhas.

Mas é claro que a pequena, no supermercado, vê uma pessoa que pecou em pecado de gula... E claro que ela se lembra da lição, e claro que ela fala em voz alta: "papai, aquele moço comeu muito doce, né?"

Depois disso, só tentando fazer dormir... E dormir desmamando é difícil, demorado, dolorido e cheio de vaidade. Pois é, vaidade. "Mamãe, não quero dormir porque meu olho vai ficar amassado". Ai, ai, ai... Eu ainda vou descobrir onde fica o baú de onde saem essas pérolas.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

A falta que ele me faz...


A gente casa (ou não, tanto faz) e um dia, depois de nove meses, vem aquela dor gostosa, uma experiência espantosa e um embrulho que faz "funhééééééé". O embrulho mesmo, depois de um ano e pouco, é que disse que os bebês fazem "funhé". Eu jamais teria capacidade para inventar isso.
Enfim, chega o pacote e acorda a onça. A mãe onça. Aquela mulher irritadiça, depressiva, chorona, cansada, possessiva que acha que fez o filho sozinha. Aquela mulher que rosna e que acha que é só mãe e mais nada. E que só ela sabe trocar. E que só ela sabe vestir. E que só ela sabe onde ficam as roupas (bom, isso é verdade). E que só ela ama perdidamente o bebê. E... e uma lista infindável de tarefas que a mulher toma para si sem oferecer para a outra metade sem a qual aquela obra prima encantadora não seria possível. E então entra o pai e pega o embrulhinho e... bom, ele se emociona. E toda vez ele faz a mesma coisa: pega o pacote e se emociona. E o pacote ri com ele sem esforço mesmo ele não tendo "tetê". A cena é linda, mas como assim? E dorme nos braços dele sem mamar? Mas ele nem ajuda a cuidar!! Ele só fica fora de casa trabalhando o dia todo, pagando contas, comprando comida, esquentando comida, comprando produto de limpeza, matando bicho, limpando a caca dos gatos! Nem tem tempo para cuidar do bebê!
E o tempo passa, a criança gruda na mãe, tudo quem tem que fazer é a mãe, o pai só leva pra escola todo dia e já vai trabalhar até tarde.
Nesse brinde entra mais uma criança e a mãe-filha-única fica perdida nessa relação absurda que é a fraterna sem entender lhufas dessas brigas em que ambas irmãzinhas se ressentem porque queriam ser entendidas pela outra. Diabos, essas meninas se amam ou se detestam? Que inferno! Vai ficar cada uma de um lado da casa pensando no que fez, e fica mais infame a situação ao se descobrir que elas estão chorando pela separação, não pela medida disciplinar... E vem ele de novo: você não teve irmãos... é assim mesmo, fala mais manso com elas. Quem é você pra me dizer para falar mais manso? Sou eu que fico aqui o dia todo aguentando isso enquanto você está fora...trabalhando. E de repente aquelas criaturinhas que provocaram a impaciência materna, do pai só arrancam ternura. E ele fala suave, abraça as pequenas, explica, pede obediência e como um passe de mágica elas voltam sossegadas para o quarto e vão brincar quietinhas e sorridentes. É um complô?? Ele nem tem tempo para ficar com elas e é assim que elas reagem? Ele pega suas coisas, volta para o trabalho depois de se atrasar para resolver uma situação de estresse feminino coletivo e pronto, parece que nada aconteceu, e fica a mãe de novo com a bomba na mão esperando explodir. E esperando, e esperando... Só ouvindo de tempos em tempos aquele "a que horas o papai volta?" das carinhas de bichinhos silvestres. E olhando aqueles olhinhos lindos, e pensando em tudo que eu não preciso fazer por ter quem faça por mim, eu acho que lá no fundo o orgulho besta baixa guarda e também se pergunta: "será que ele demora hoje?"

sábado, 1 de janeiro de 2011

Quando o burro velho fala, o novo levanta as orelhas...

Minha mãe já dizia, e repetia insistentemente: "quando o burro velho fala, o novo baixa as orelhas".
De pequena eu achava isso impressionante, porque era admirável que animais tivessem respeito por outros mais velhos. Com o tempo fui entendendo que era só uma forma metafórica de dizer "cala a boca".
Entendida a informação e promovida ao cargo de mãe, sou capaz de entender as mil formas que essa frase tinha e os infinitos contextos aos que se aplicava em minha infância. Falar parece ser regra para as crianças depois de um ano e nove meses. Aos adultos fica o consolo do silêncio sapiente e meditativo de quem toma consciência de sua tendência a perder espaço e voz.
Adulto entretanto é teimoso, né? E em uma tentativa de entablar uma conversa, sai o desabafo do chef de família- aqui é "chef" mesmo- que considerando a estrutura muito aberta do restaurante onde trabalha, responde à primogênita que questiona seu horário de regresso ao lar:"amanhã, se não chover, eu volto mais cedo". Eu não estava presenciando a cena, mas consigo visualizar os olhos arregalados e o muxoxo indignado que antecederam a pergunta: "papai, chove na cozinha do restaurante???"... sem comentários.
Minutos depois, uma fralda precisava ser trocada, e nem sempre essa tarefa é agradável por conta das diferentes variedades de material que pode nos brindar. Claro que a trocadora assídua de fraldas questiona a alimentação da criança que gera coisa tão duvidosamente consistente e grudenta e pergunta o que a criança comeu para fazer aquilo. E claro que nessa conversa de adulto de mudar de tema sem nem dar pisca-pisca na troca de pista, a sequência do diálogo foi desastrosa. Foi lembrado nesse momento de associação infeliz um cupcake que fora deixado pela metade e devorado pelo papai. "Puxa amor, você terminou de comer aquilo que eu estava comendo!"
Deixa da caçula: "Mamãe, você comeu meu cocôôôô?
Lição número 1: nunca chame nada de "aquilo" quando você estiver trocando fralda, porque tudo que é chamado de "aquilo", na cabeça da criança vira outro "aquilo"
Lição número 2: quer conversar com seu cônjuge? Se não for para falar de Backyardigans ou coisas da idade dos filhos, fique quieto.
Os burros velhos não deveriam nem falar.