Aprender sempre...

Ser mãe é ter a humildade de aceitar-se como fonte de vida de um ser que não nos pertence e, ao mesmo tempo, é tão nosso quanto qualquer outra parte de nosso corpo. Ser mãe é colecionar pérolas diárias, e por que não? Compartilhá-las...

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Canção de ninar

As pérolas têm se multiplicado e sido anotadas em papel. Em breve será possível convertê-las em tesouros públicos novamente. A de hoje mereceu atenção especial, porque como canção de ninar foi um fiasco, apesar de sua intenção sonífera. Gerou um ataque de riso incontrolável e a impulsividade da postagem que segue. Como é que a gente dorme com isso?
"Bate palminha bate,
É hora de dormir
Pra ficar bem forte,
Cuidado pra não cuspir"...
Miguel Wisnik que se cuide, a nova compositora das massas já tem quase 3 anos. Jordi estourou nessa idade!!!

domingo, 27 de março de 2011

De volta à Terra do Nunca


O cachorrinho explorava corajosamente a vasta mata que adornava aquela região. Plantas variadas em um espaço visivelmente limitado. Folhagens longas e arbustos de pequenas folhas, flores alaranjadas e plantas que insistiam em não dar flores, e o valente cãozinho passeava. Uma bola roxa enorme passa rente a sua cabeça e a gata gigante corre assustada. O cachorrinho encontra uma palha avermelhada e veste de bigode. É gooooooooooooooool!!!! Passa pra um, passa pra outro, passa pro terceiro... ah não, droga, ali na escadinha é difícil de chutar.
O concreto molhado emana umidade e alivia o calor de quem passou um dia inteiro enfiado em casa, ora por preguiça de enfrentar o sol forte, ora por medo da chuva e dos gritos dos torcedores da vizinhança.
O cheiro lá fora me remete aos quintais de minhas avós. Uma das casas ficou só na lembrança. A outra ainda serve de espaço de lazer para minha caçula fazer as mesmas estripulias que eu em sua idade.
Enquanto penduro a roupa no varal, fecho os olhos e sinto aqueles aromas que eram tão meus: o cheiro do amaciante que saía dos lençóis detrás dos quais eu me escondia, o cheiro da terra úmida do vaso onde uma miniatura de cachorro é posta como uma desbravadora das selvas, o chão limoso que serve de estádio para uma bola das Princesas. Brincar junto não significa fazer a mesma coisa ao mesmo tempo. A imaginação é um espaço de vastos ambientes paralelos que se fecham e interagem entre si e com a realidade ao mesmo tempo, e a delícia do processo é ver lembranças sendo fabricadas avidamente.
Odores e sons que ficam, mesmo depois de 25, 30 anos. Odores e sons que se repetem e continuam sendo mágicos. Por um instante aquele cachorrinho de plástico foi meus olhos, por um instante as batidas do coração da criança mais velha foram minhas e desejei fazer um gol. E eu posso. Porque graças a Deus eu NUNCA me permiti crescer. E nem pretendo.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Comeu um dicionário?

A criatura viu alguém de óculos escuros e perguntou pelas "pupilas"... Por que ela não conseguia ver as pupilas???? Foi chocante com meses faltando para 3 ouvir uma pergunta assim.
Compartilhado com uma amiga, também houve surpresa, o que significa que não é exagero meu.
Ok. Passou. Minutos depois, ao ver um desenho de uma personagem infantil, um pseudo cachorro, a criança questiona sobre a existência de "narinas". Como assim???
A última vem à noite, chamando a pomada de "pomada". Não podia ser "creminho"? Não. Você usa tatibitati com sua cria? Se usa, é isso que vai ouvir. Se não usa, não espere isso dele, compre um dicionário. Ele ainda vai te surpreender...

sábado, 5 de março de 2011

Linha do tempo



Nada como o Carnaval para a gente se aproximar da família e entender como cada um pensa...
Você tenta cantar "Corre cotia" pra animar o ambiente e sua filha te diz "Nossa Senhora, mãe!", e você fica lá, com cara de pastel, tentando entender se era uma crítica, uma reprimenda...

Aí ela tira o sapato, cheira o próprio pé e reclama "Meu Deus"... O pessoal lá em cima deve estar ocupado ou encarregando a avó de encontrar quem atenda a esses apelos da pequena rogadora.

Antes fosse alguém que roga. A Criatura pensa. Pensa demais às vezes. Nem chegou perto dos 3 anos e já filosofa sobre a fugacidade da vida...

"Mamãe, quando a gente está no agora, o que acontece com o ontem?" "O ontem fica pra trás, filha" "Quer dizer que o ontem não volta mais?" "Não volta, amor." "E se a gente for pro ontem, o agora acaba?" "Não dá para voltar para o ontem, amor, e amanhã, o agora vira ontem também e vamos estar em outro agora" Enfim, ela tentou mil vezes reconstruir o tempo inconformada de não poder conciliar todos os agoras de uma vez só. E ela ainda nem sabe que em certas fases da vida, tudo que a gente precisava é que pela última vez o ontem fosse agora, só um minutinho, só para fazer alguma coisa ou terminar diferente alguma frase...

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Child X Food


Poderia ser programa de sucesso na TV, mas é evento diário na casa de quem tem criança. Começa com reações variadas. Crianças normalmente fazem cara de nojo ao comer a primeira papa e tentam cuspir tudo. Aqui eu tive que segurar a colher para não ir goela abaixo. Preferências entre doce e salgado? Se ela pudesse abstrair as ideias perguntaria se não é tudo a mesma coisa. Nunca teve nada disso. E foi piorando com o tempo!
Depois de aprender que comer doce demais faz virar bolinha, entendeu que na verdade dá dor de barriga, e que beber água é importante. Agora parece que acorda de ressaca: passa o dia bebendo água porque faz bem. Claro que come doce... Empapuça antes de terminar o segundo!
A relação com a comida só faz melhorar e aumentar até um pouco a autoestima da mãe, que como toda mãe de primeira viagem se sente um ET, e aos poucos, dadas as respostas recebidas, percebe que está acertando no tempero. Literalmente.
Fruta agora é algo complexo, e é apresentada em toda sua anatomia com os nomes corretos: esta é a polpa, esta é a casca, este é o cabo, não é pra comer, né mãe? Ih, a semente eu acho que engoli... Ptu, ptu, ptu...
O desfecho se dá com o ser já verbalizando comida. Realmente verbalizando: criando verbos novos. Filha, o que você lanchou hoje com a babá? "Ah, mamãe, eu pãozei, danonei, maçãzei e uvei. E a Dada pãozou, danonou, maçãzou e uvou também". Que ela conjugue bem os verbos vá lá... mas que por favor se limite a brincar com comida, porque outra professora de línguas não dá...


segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Mãemonstra


Depois de praticamente ter tido férias, sim, nunca é na íntegra isso, eu retomei a rotina de trabalho meio que conectada ao piloto automático. A cabeça focada em projetos mil, novidades coloridas e vontades atrevidas.
Dar aula é sempre bom, há alunos que conseguem fazer dessa arte ainda melhor, e mesmo atuando com certa inércia, acaba sendo um momento de interação gratificante.
Voltar para casa é ainda melhor, meu abracinho quentinho e meu sorrisinho brilhante me esperavam e nada pode ser mais revigorante que isso. Mas havia a fome... e que fome... eu precisava jantar. Desta vez pedi por favor para a cria esperar um pouco, que assim que terminasse o jantar iria para o quarto. A pequena, obediente, foi brincar e esperar. Ganhou uma bolacha doce enquanto eu terminava de matar o que me matava. Veio para pegar a bolacha e não voltou mais. Achando que estava fazendo mistérios soltei um "espera aí que já vou te pegar!" que ficou no ar sem resposta.
Meu coração apertou.
Ela conseguiu comer a bolachinha, mas dormiu esperando a hora de brincar. Coração apertou mais, e acho que culpa é uma palavra muito pequena para descrever o nó que me fechou a garganta e cobriu de lágrimas meus olhos.
Primeiro dia de volta ao trabalho e eu deixo isso acontecer???
A sensação de vazio que correu em minhas veias era fria e escura. Peguei meu tesouro, beijei, beijei. Impressão de carregar na testa um luminoso piscante em rosa choque: "mãemonstra".
Eu sei que acontece. Já aconteceram outras, mas nunca sem que eu tivesse tido tempo de ficar junto um pouquinho que fosse.
Prometo que eu durmo com fome se for preciso, mas ela nunca mais vai pegar no sono sem mim.

(Excessivamente female today, I know it)

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Canibalismos...

Um odor característico no ar impregna a casa inteira com seu poder de repelente de pessoas. Cada segundo que tarda em ser expulso do ambiente, mais o contamina. A mãe, em sua prática diária de sarcasmo devidamente ensinado à cria, insinua: "hmmmmmmmmmmmm que perfuminho forte... hora de trocar o perfuminho". Cria devidamente condicionada a responder a sarcasmo, passando a mão na calça e em seguida no braço da mãe: "tó, mamãe, perfuminho pra você... passa mais... " Mãe com cara de depressão profunda escondida em vale. (Não vou usar o termo adequado por ser inadequado a um blog desse tipo)

Pouco antes de dormir, crianças devidamente vestidas de forma quente e aconchegante, e a mãe sem noção percebe que errou na indumentária. Nem está tão frio! Para a maior que implorava pela manta: "não vou te cobrir, você está muito abrigada, se coloco uma manta você vai acabar cozinhando e morrendo de calor. Nem vou colocar o cobertorzinho na sua irmã para ela não cozinhar também." Reação da pequena impressionada e choramingando: "mamãe, não cozinha a gente... nós somos muitos pequenas, não cozinha minha irmã, minha irmã e eu ainda não crescemos, não pode cozinhar a gente!!! Snif"

Quem sou eu? A bruxa de "João e Maria"?

Criança com sono é fogo... se não está fazendo malcriação, está falando incongruências.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Fofurices


Maridão está lá, sentado sossegado, de repente ganha abraço!!! Logo o olhar sapeca vai para a barriga proeminente. Segundos de silêncio esperando que classe de comentário será produzida... "Papai fofiiiiiiinhoooooooo" e mais abraço!!!! Sempre é surpreendente...

Aí a gente ensina, ensina... criança vira formiga, não tem jeito. Até a minha que sempre gostou mais de frutas, aprendeu a comer doce. Para dar uma freada aparecem histórias bem absurdas, afinal, passa longe de meus planos ensinar minha filha a ser uma neurótica contadora de calorias. Para controlar o doce, a pequena aprendeu que quem come doce demais vira bolinha de amora e pula-pula de Umpa Lumpa. Informação assimilada, agora as duas irmãs se controlam sozinhas.

Mas é claro que a pequena, no supermercado, vê uma pessoa que pecou em pecado de gula... E claro que ela se lembra da lição, e claro que ela fala em voz alta: "papai, aquele moço comeu muito doce, né?"

Depois disso, só tentando fazer dormir... E dormir desmamando é difícil, demorado, dolorido e cheio de vaidade. Pois é, vaidade. "Mamãe, não quero dormir porque meu olho vai ficar amassado". Ai, ai, ai... Eu ainda vou descobrir onde fica o baú de onde saem essas pérolas.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

A falta que ele me faz...


A gente casa (ou não, tanto faz) e um dia, depois de nove meses, vem aquela dor gostosa, uma experiência espantosa e um embrulho que faz "funhééééééé". O embrulho mesmo, depois de um ano e pouco, é que disse que os bebês fazem "funhé". Eu jamais teria capacidade para inventar isso.
Enfim, chega o pacote e acorda a onça. A mãe onça. Aquela mulher irritadiça, depressiva, chorona, cansada, possessiva que acha que fez o filho sozinha. Aquela mulher que rosna e que acha que é só mãe e mais nada. E que só ela sabe trocar. E que só ela sabe vestir. E que só ela sabe onde ficam as roupas (bom, isso é verdade). E que só ela ama perdidamente o bebê. E... e uma lista infindável de tarefas que a mulher toma para si sem oferecer para a outra metade sem a qual aquela obra prima encantadora não seria possível. E então entra o pai e pega o embrulhinho e... bom, ele se emociona. E toda vez ele faz a mesma coisa: pega o pacote e se emociona. E o pacote ri com ele sem esforço mesmo ele não tendo "tetê". A cena é linda, mas como assim? E dorme nos braços dele sem mamar? Mas ele nem ajuda a cuidar!! Ele só fica fora de casa trabalhando o dia todo, pagando contas, comprando comida, esquentando comida, comprando produto de limpeza, matando bicho, limpando a caca dos gatos! Nem tem tempo para cuidar do bebê!
E o tempo passa, a criança gruda na mãe, tudo quem tem que fazer é a mãe, o pai só leva pra escola todo dia e já vai trabalhar até tarde.
Nesse brinde entra mais uma criança e a mãe-filha-única fica perdida nessa relação absurda que é a fraterna sem entender lhufas dessas brigas em que ambas irmãzinhas se ressentem porque queriam ser entendidas pela outra. Diabos, essas meninas se amam ou se detestam? Que inferno! Vai ficar cada uma de um lado da casa pensando no que fez, e fica mais infame a situação ao se descobrir que elas estão chorando pela separação, não pela medida disciplinar... E vem ele de novo: você não teve irmãos... é assim mesmo, fala mais manso com elas. Quem é você pra me dizer para falar mais manso? Sou eu que fico aqui o dia todo aguentando isso enquanto você está fora...trabalhando. E de repente aquelas criaturinhas que provocaram a impaciência materna, do pai só arrancam ternura. E ele fala suave, abraça as pequenas, explica, pede obediência e como um passe de mágica elas voltam sossegadas para o quarto e vão brincar quietinhas e sorridentes. É um complô?? Ele nem tem tempo para ficar com elas e é assim que elas reagem? Ele pega suas coisas, volta para o trabalho depois de se atrasar para resolver uma situação de estresse feminino coletivo e pronto, parece que nada aconteceu, e fica a mãe de novo com a bomba na mão esperando explodir. E esperando, e esperando... Só ouvindo de tempos em tempos aquele "a que horas o papai volta?" das carinhas de bichinhos silvestres. E olhando aqueles olhinhos lindos, e pensando em tudo que eu não preciso fazer por ter quem faça por mim, eu acho que lá no fundo o orgulho besta baixa guarda e também se pergunta: "será que ele demora hoje?"

sábado, 1 de janeiro de 2011

Quando o burro velho fala, o novo levanta as orelhas...

Minha mãe já dizia, e repetia insistentemente: "quando o burro velho fala, o novo baixa as orelhas".
De pequena eu achava isso impressionante, porque era admirável que animais tivessem respeito por outros mais velhos. Com o tempo fui entendendo que era só uma forma metafórica de dizer "cala a boca".
Entendida a informação e promovida ao cargo de mãe, sou capaz de entender as mil formas que essa frase tinha e os infinitos contextos aos que se aplicava em minha infância. Falar parece ser regra para as crianças depois de um ano e nove meses. Aos adultos fica o consolo do silêncio sapiente e meditativo de quem toma consciência de sua tendência a perder espaço e voz.
Adulto entretanto é teimoso, né? E em uma tentativa de entablar uma conversa, sai o desabafo do chef de família- aqui é "chef" mesmo- que considerando a estrutura muito aberta do restaurante onde trabalha, responde à primogênita que questiona seu horário de regresso ao lar:"amanhã, se não chover, eu volto mais cedo". Eu não estava presenciando a cena, mas consigo visualizar os olhos arregalados e o muxoxo indignado que antecederam a pergunta: "papai, chove na cozinha do restaurante???"... sem comentários.
Minutos depois, uma fralda precisava ser trocada, e nem sempre essa tarefa é agradável por conta das diferentes variedades de material que pode nos brindar. Claro que a trocadora assídua de fraldas questiona a alimentação da criança que gera coisa tão duvidosamente consistente e grudenta e pergunta o que a criança comeu para fazer aquilo. E claro que nessa conversa de adulto de mudar de tema sem nem dar pisca-pisca na troca de pista, a sequência do diálogo foi desastrosa. Foi lembrado nesse momento de associação infeliz um cupcake que fora deixado pela metade e devorado pelo papai. "Puxa amor, você terminou de comer aquilo que eu estava comendo!"
Deixa da caçula: "Mamãe, você comeu meu cocôôôô?
Lição número 1: nunca chame nada de "aquilo" quando você estiver trocando fralda, porque tudo que é chamado de "aquilo", na cabeça da criança vira outro "aquilo"
Lição número 2: quer conversar com seu cônjuge? Se não for para falar de Backyardigans ou coisas da idade dos filhos, fique quieto.
Os burros velhos não deveriam nem falar.