Aprender sempre...

Ser mãe é ter a humildade de aceitar-se como fonte de vida de um ser que não nos pertence e, ao mesmo tempo, é tão nosso quanto qualquer outra parte de nosso corpo. Ser mãe é colecionar pérolas diárias, e por que não? Compartilhá-las...

sábado, 6 de novembro de 2010

Viver para aprender

Sabedoria infantil é algo que não podemos subestimar.
A criança aprende com o que vê e com o que temos paciência para explicar e ensinar, e o que se colhe depois é precioso. Mas é ensinado. Sábio é o que a criança faz sozinha.
Halloween passado. Depois de uma festa de bruxas com adultos, um encontro inusitado na rua proporcionou-nos uma celebração ainda melhor. Ao ir votar escutamos que um primo chama para um aniversário e nem imaginávamos as proporções que isso teria! Era um condomínio fechado que celebra o Halloween com toda sua beleza. Além de enfrentar lembranças da infância, ver as crianças de meu passado cerceando suas próprias crianças foi ímpar. Logo uma fantasia emprestada e alguns adornos da véspera improvisaram uma roupa assustadora para meu catatau e fomos pelas ruas dando opções:"doces ou travessuras?" Claro que foram por água abaixo meus temores de que tão pequena criatura não se adaptasse ao festejo. Já na segunda casa, a pequena aprende a abrir sua sacolinha para receber doces e se não contemplada insistia até que fosse sua vez. Sabedoria infantil que não se ensina.
Nem tudo são doces nessa vida, mas as lembranças dos doces ficam, e alguns dias depois, a pequena se lembra da fartura de açúcar dos dias anteriores, em particular do Halloween adulto ao que fora de camiseta preta como roqueira. "Mamãe, quero comer como oeia". Pronto, ia começar mais um momento de "adivinha o que ela disse". "Você quer comer como o quê?" "Oeia, mamãe." Comer orelha já era demais. De onde saíra aquilo? "Comer orelha, filha?" "Oeia não, mamãe, oeia!" Pronto, a conversa estava ficando delicada. "Ok, bebê, explica para a mamãe o que é essa oeia, porque eu não estou entendendo". E fiquei segura de que o dilema não terminaria. Ledo engano... Com toda a paciência do mundo, a pequena coloca a mão na orelha e explica: "mamãe, isso é oeia. Eu estou falando de OEIA" e aponta para minha camiseta preta... Era da "roqueira" que ela estava falando... e ela soube fazer-se entender, queria empanturrar-se de doces e o peito inflado orgulhoso de mãe quase explodiu...
Pouco tempo depois, as notícias vieram pesadas, com a bisa indo pro hospital uma vez mais e eu, neta desolada, expressando minha tristeza na íntegra. "Mamãe, porque você está triste?" "Porque a Baba, sua bisa, está doente, está querendo ir embora e eu estou preocupada". "Está tudo bem, mamãe, não fica triste. O vovô e a vovó virão buscar a Baba e ela vai ficar bem e todo mundo vai ficar junto". Passado o susto da lição que acabara de aprender com o ser que há pouco tempo chegou a mim, fiquei pensando que se isso era fato, eu havia entendido porque a Baba resistiu mais um pouco: ela não se deixaria resgatar pelo ex genro...
A memória para fatos e nomes, as lembranças que não se vão, a avó que sobrevive como se rondasse a casa, as reclamações coerentes ao levar uma bronca... Tudo leva a crer que ainda falta muito para crescer. Para eu crescer. Ninguém é totalmente adulto antes de trazer um filho ao mundo e amadurecer com ele.
Filho é o tipo de acontecimento que deve nos fazer pensar, no último suspiro, que realmente valeu a pena ter passado por este mundo.

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