Aprender sempre...

Ser mãe é ter a humildade de aceitar-se como fonte de vida de um ser que não nos pertence e, ao mesmo tempo, é tão nosso quanto qualquer outra parte de nosso corpo. Ser mãe é colecionar pérolas diárias, e por que não? Compartilhá-las...

sábado, 20 de novembro de 2010

Construindo MINHA torre de Paris.


Fim de semana daqueles que só acontecem a cada quinze dias. Fim de semana que tinha que acontecer todo dia. Filhas únicas com uma irmã em outra casa que se encontram e se relacionam como se convivessem diariamente. Será que se convivessem diariamente seriam tão boas irmãs??
A mais velha entrega uma bandeira do Peru à menor dizendo que fez na escola para dar-lhe de presente. A cena é ímpar. Até que a menor vê o bicho de pelúcia que a maior trouxe para compartilhar mas não quer emprestar... Entra a mãe no meio : "se não é pra emprestar, para que trouxe?" Conflito resolvido. O bicho é um cachorro que só não está mais pintado de canetinha por falta de espaço. Que conselho a mais velha dá ao emprestar o animal que será levado ao quintal??? "Cuidado para não sujar"... Alguém entende esses paradoxos? Sem dúvida aqueles rabiscos na pelúcia são sapatinhos e máscara, não são sujeira. Mas lá no quintal o cachorrinho de pelúcia perde o posto para os gatos de verdade, e a menor exaustivamente questiona a gata sobre o que ela está fazendo. A gata vai para o vizinho indignada com a invasão de privacidade!!!
De volta às irmãs, educações diferentes geram questionamentos razoáveis. Ferida pela mais velha, a menor pergunta: "mamãe, por que ela não me pediu desculpas??" E como a gente explica que há processos e processos e que basta mudar a casa, um dos pais, para que mudem os valores?? E como a gente dorme sabendo que fora de casa esses processos tendem a ser mais variados ainda? É doloroso ensinar peixe dourado a nadar com tubarões...
Ao longo da semana que seguiu, produziram-se pérolas mágicas e linguísticas. "Mamãe, a muriçoca está imatada". HEIN? Explica, filha... "Ela não tá esmagada, tá imatada" Mãe com cara de quem pariu uma enciclopédia, porque há 3 minutos a pessoa empilhou 10 livros e disse que fez a torre de Paris.
No domingo, papai saiu da cozinha do restaurante um minutinho só, só para saudar e precisava voltar. "Não vai, papai, fica aqui. A gente tem que ficar junto. A gente somos família". O estresse do papai pasou na hora, assim como a má vontade da mamãe em ir trabalhar depois de ouvir: "não vai, mamãe, já estou morrendo de saudade". Pacote amor completo? Quer mesmo? Ah... Pacote amor ganha lacinho quando a gente ouve assim: "Mãe emprestada, faz pastel em mim?" E eu vou, vou lá na caminha dela e enrolo com o cobertor como se fosse um pastelzinho. Deito e amamento a menor. Coração de mãe é assim. Briga e briga, mas ama muito. Mesmo sem ter parido.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Nunca estamos prontas


Entender que o filho não é nosso é uma coisa, colocar isso em prática é outra.
Um episódio simples de comportamento humano normal, mostra que mães super valorizam as coisas e não estão preparadas para nada... Mesmo dando o melhor de si para estar.
Pediram-me uma banana, e numa tentativa de promover independência, autorizei que se servisse sozinha. O pedido de descascar a fruta foi recusado, disse para fazê-lo sozinha também. Fez, descascou, tirou os fiapinhos e comeu. Procurou um saquinho de lixo sozinha também. Anunciou que queria outra e serviu-se sozinha. Resmungou qualquer coisa ao servir-se. Quando olhei para trás, partia a fruta no meio, estava passada. Não me pediu ajuda para isso... descobriu que conseguia. A fruta estava totalmente passada e apenas declarou que não queria comê-la. Separou-a e foi escolher outra. Após uma sequência frustrada de frutas excessivamente maduras, achou a fruta certa.
Ontem foi parecido...Na ida, amou os carrapichos que grudavam na roupa, mas o dente-de-leão estufadinho era assustador por algum motivo. Na volta, depois de comer sushi como gente grande, sem fazer careta ou rotular, quis pegar mais carrapicho e declarou valente: "vou bater no dente-de-leão". Subiu o barranco da pracinha e bateu. Em todos. Soprou feliz e jogou ao vento as sementinhas que voaram livres e alheias ao desafio que acabara de ser vencido...
Precisava descer o barranco, o coração de mãe aflito, ela ficaria com medo. Quem disse? Deu a mão, escorregou com o pezinho de lado como qualquer criança saudável sabe fazer e viemos brincar com as novas bonequinhas de pano.
A mãe dela, abismada com ela e consigo mesma... Sensação de estar perdendo alguma coisa que vale ouro, simplesmente por estar fazendo tudo certo...

sábado, 6 de novembro de 2010

Viver para aprender

Sabedoria infantil é algo que não podemos subestimar.
A criança aprende com o que vê e com o que temos paciência para explicar e ensinar, e o que se colhe depois é precioso. Mas é ensinado. Sábio é o que a criança faz sozinha.
Halloween passado. Depois de uma festa de bruxas com adultos, um encontro inusitado na rua proporcionou-nos uma celebração ainda melhor. Ao ir votar escutamos que um primo chama para um aniversário e nem imaginávamos as proporções que isso teria! Era um condomínio fechado que celebra o Halloween com toda sua beleza. Além de enfrentar lembranças da infância, ver as crianças de meu passado cerceando suas próprias crianças foi ímpar. Logo uma fantasia emprestada e alguns adornos da véspera improvisaram uma roupa assustadora para meu catatau e fomos pelas ruas dando opções:"doces ou travessuras?" Claro que foram por água abaixo meus temores de que tão pequena criatura não se adaptasse ao festejo. Já na segunda casa, a pequena aprende a abrir sua sacolinha para receber doces e se não contemplada insistia até que fosse sua vez. Sabedoria infantil que não se ensina.
Nem tudo são doces nessa vida, mas as lembranças dos doces ficam, e alguns dias depois, a pequena se lembra da fartura de açúcar dos dias anteriores, em particular do Halloween adulto ao que fora de camiseta preta como roqueira. "Mamãe, quero comer como oeia". Pronto, ia começar mais um momento de "adivinha o que ela disse". "Você quer comer como o quê?" "Oeia, mamãe." Comer orelha já era demais. De onde saíra aquilo? "Comer orelha, filha?" "Oeia não, mamãe, oeia!" Pronto, a conversa estava ficando delicada. "Ok, bebê, explica para a mamãe o que é essa oeia, porque eu não estou entendendo". E fiquei segura de que o dilema não terminaria. Ledo engano... Com toda a paciência do mundo, a pequena coloca a mão na orelha e explica: "mamãe, isso é oeia. Eu estou falando de OEIA" e aponta para minha camiseta preta... Era da "roqueira" que ela estava falando... e ela soube fazer-se entender, queria empanturrar-se de doces e o peito inflado orgulhoso de mãe quase explodiu...
Pouco tempo depois, as notícias vieram pesadas, com a bisa indo pro hospital uma vez mais e eu, neta desolada, expressando minha tristeza na íntegra. "Mamãe, porque você está triste?" "Porque a Baba, sua bisa, está doente, está querendo ir embora e eu estou preocupada". "Está tudo bem, mamãe, não fica triste. O vovô e a vovó virão buscar a Baba e ela vai ficar bem e todo mundo vai ficar junto". Passado o susto da lição que acabara de aprender com o ser que há pouco tempo chegou a mim, fiquei pensando que se isso era fato, eu havia entendido porque a Baba resistiu mais um pouco: ela não se deixaria resgatar pelo ex genro...
A memória para fatos e nomes, as lembranças que não se vão, a avó que sobrevive como se rondasse a casa, as reclamações coerentes ao levar uma bronca... Tudo leva a crer que ainda falta muito para crescer. Para eu crescer. Ninguém é totalmente adulto antes de trazer um filho ao mundo e amadurecer com ele.
Filho é o tipo de acontecimento que deve nos fazer pensar, no último suspiro, que realmente valeu a pena ter passado por este mundo.

sábado, 2 de outubro de 2010

Conversa de banheiro.


Essa é breve, mas a postagem se faz urgente. Momentos filosóficos no banheiro, depois da chegada de uma criança, deixam de ser meditativos e de revisão do dia para transformar-se em caixinhas de surpresa. O simples fato de não poder estar sozinha "reinando" já é desconcertante...
Enfim, aí estamos lá, resignados com a companhia que nos mantêm ocupados enquanto nos equilibramos entre fazer o que fomos fazer e tirar das ávidas mãozinhas tudo que pode ser quebrado, derrubado e bebido. Eis que na tentativa de pedir um empréstimo, a pessoinha pede devolvido o pacote de absorventes. Negado. E ainda seguido da correção devida que troca "me devolve" por "me empresta". Não adianta dizer que não. "Me empresta para eu usar, mamãe, só um pouquinho suas fraldas. É pra eu fazer xixi."Lá vai a conversa se esticar. E com toda a paciência do mundo a mamãe tem que explicar que a "fralda" em questão não segura xixi, é pra outra coisa. Claro que logo precisa explicar qual outra coisa. Mas o pacote rosa choque é deliciosamente chamativo e a pessoa decide que precisa dele porque já usa esse tipo de produto.
"Filhinha, ainda não querida, você só vai precisar dessas coisas quando for alta como a mamãe, grandona, quando tiver tetê..." "Eu tenho tetê". "Tetê grande, filha...Quando você for toda grande". Olhos brilhando, sorriso de criança crescendo e de repente me deu um frio na espinha. Ai.
"Ah, então eu vou usar fralda da mamãe quando eu for grande!" "Sim, querida". "Quando eu crescer eu vou ter tetê grande que nem a mamãe e meu pipi vai crescer igual o do papai". HEIN? "Você vai ter pipi, filhinha?""Sim, mamãe, e meu cabelo vai ser careca igual ao do papai, assim, aqui dos lados".
Eu vou entender isso como uma declaração de amor escancarada de quem admira loucamente os próprios pais, e passar os próximos 13 anos rezando para que essas transformações não se concretizem nela. Nada mais a declarar...

domingo, 19 de setembro de 2010

Criança bem criada

Criança bem criada fala "por favor" e "obrigada" sem que a gente precise pedir e pede "licença" até pra porta que está fechada. Mas há outras... Criança bem criada herda a insanidade da mãe e fica um tempão procurando uma boneca que esteve o tempo todo guardada sob o próprio braço. Criança bem criada também sabe contar em inglês de forma alternativa... Se a mamãe diz que trabalha na Seven, a criança vem corrigir e diz que é na "Noven". E semanas depois, quando a irmã mais velha ensina como usar o inglês corretamente, repete a proeza. O modelo da professora: "...ten, eleven, twelven". A repetição da aluna com conhecimentos prévios:" noven, ten, eleven, twelven".
Criança bem criada aceita bolo no lanche da tarde e duas mordidas depois diz "tó, mamãe, come você". "Quer trocar por uma maçã?" "Sim, mamãe". E come a maçã inteirinha...
Criança bem criada tem independência. Na farmácia, enquanto você já está pagando a compra, ela fica analisando os produtos em uma estante que você não pode ver, mas com a mãozinha para trás e fazendo perguntas para as funcionárias. E para testar até onde ela realmente é independente, você fica no ponto cego da criança, mas não perde de vista suas rotas de fuga. E quando nota que ela a procura e se prepara para sair correndo na hora em que a criança abrir o maior berreiro desesperado, é surpreendida por um centrado pedido à funcionária do balcão:"Moça, você sabe onde está a minha mãe?"
Filho bem criado é aquele que te ama, mas que precisa de você cada dia um pouquinho menos. E ao mesmo tempo em que isso cria crateras no coração de mãe, fortaleces laços e alaga de lágrimas de orgulho essas mesmas craterinhas...
Amor sem fim.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Não sou homem não!!!


Além de incrivelmente doce, a maternidade é uma forma de aperfeiçoamento como ser humano. É um teste diário de disciplina, paciência e educação. Você precisa conseguir criar uma rotina firme para manter a criança calma, saber impor disciplina sem ser aterrorizante ou agressivo e conseguir silêncio sem gritar, para não ser incoerente com o que está pedindo... Nem sempre é divertido ou belo, mas sempre é edificante.
O bom é que o tempo como mãe acaba nos ensinando que metade das coisas que sabíamos podem ser vistas e feitas de outra maneira, mas as mais interessantes são as que podem ser ditas de um modo novo ou interpretadas de forma particular.
Muitas vezes, para conseguir bons resultados, é preciso negociar ou saber rir da situação... e uma criança que foge ao ser penteada pode ser comparada a uma ervilha que corre do prato ao chão. O problema de certas metáforas é que se você tem em mãos duas crianças, elas, as metáforas, fogem de controle. Bom, as crianças também. E depois da pobre ervilha, segue uma lista de outras coisas que fogem do prato...O que era uma brincadeira para conseguir pentear um cabelinho, vira uma lista de supermercado, que como tudo, um dia acaba. Só que com crianças nada acaba sem um grand finale.
A maior se lembra de um episódio em que sua mãe tentava cortar uma melancia que, como todos os outros itens de nossa lista, fugiu. E dá-lhe fábula... Depois de muito correrem atrás da melancia fujona, desistiram e telefonaram para a polícia melancial, que quando chegou ao local, ouviu as queixas de ambas de sua tentativa infrutífera de cortar a melancia já citada. Espantados com o grau de violência de mãe e filha, a polícia melancial gritou "co-co-co-co-cortaaaaaaaaarrrrrrr?????" e saiu correndo. Total da história: elas precisaram chamar a polícia comum mesmo e resolver o problema colocando algemas na melancia (?) que escapou...Sim, conseguiram comê-la.
Quando vem a noite, começam as brincadeiras de baixar o ritmo, e dar beijinhos mordisquentos claro que está entre os dez mais. Dá para resistir a uma criatura que se mata de rir só de chegarmos perto pra dar beijo? Mas toda ação tem uma reação. "Mamãe, não me come." "Por que não?" "Porque ainda está quente". Assim não dá pra brincar...
E o inevitável, por mais que ensinemos a respeitar e desconsiderar diferenças, aparecem aquelas conversas de que isso é coisa de menina, aquilo é coisa de menino. Parte do pacote dispensável que vem da escola. O papai não usa fralda porque ele é homem. Depois eu entendi que realmente não tinha nada a ver com o fato de ser adulto, e sim com o fato de ser do sexo masculino. Será que tem muito menino fazendo xixi com pipizinho de fora e por isso fralda é coisa de menina?? Sei lá. Fui perguntar. "O papai não usa fralda por que ele é homem?" "É." "E por que você usa?" "Por que eu sou 'homa'."
Às vezes, talvez fosse melhor ser surda...

domingo, 1 de agosto de 2010

É bonita, é bonita, que mentira!!!!

A visão viciada de um adulto em seus protocolos comportamentais lhe rouba a sinceridade a cada dia. Mesmo o que vemos e confirmamos diariamente diante do espelho é negado de nós para nós mesmos. O que é assustadoramente medonho, pode converter-se em magia divina. Até que uma criança que não sabia dessa necesidade de etiqueta social vai lá e fala tudo. Na cara.
Companheira inseparável da preguicinha familiar no pós jantar, a TV traz um zilhão de informações misturadas, principalmente se fica parada em um canal de casa e saúde em pleno fim de semana. Tudo que pasou a semana inteira é reprisado em seus melhores momentos, e o os carros-chefe são inevitáveis: programas de rejuvenecimento, de mudança de visual e de bebês.
Fica lá a D. Quadrada ligada enquanto meu momento de folga maternal se dá, e alheia aos fatos da casa, mais tarde sou informada dos efeitos das transmissões.
Uma daquelas quinhentas mães que não sabia que estava grávida dá seu depoimento, acidentalmente deixado acessível a uma criaturinha de quase 4 anos. O papai foi atualizado com detalhada narração sobre o processo, uma cesárea delicada... E os comentários felizes de que era muito legal e tal o bebê vir ao mundo. E ele nasceu, e era fofinho... E então,com narizinho torcido e carinha de nojo, o desfecho: "mas não é bonito de ver..."
Na mesma noite, o serzinho menor que me segue até o banheiro confessa : "chutei a Bêlit" (a gata de 7 anos). "Que feio, filha". "Eu pedi desculpa, porque foi sem querer e ela é senhora". Sim, ela está sendo ensinada a respeitar aos mais velhos, mesmo os gatos. Concluí que estava tudo bem. Mas nunca está tudo bem, porque certos diálogos simplesmente parecem não terminar nunca."Mamãe, vou te chutar". "Por quê? Não pode". Cara de surpresa. Dois segundos pensando e...BOMBA! "Não pode chutar a mamãe porque a mamãe é senhora". Velha, eu??? Mas, mas...
Segunda-feira vou ter uma conversa muito séria com essa babá que fica ensinando a dizer "sim, senhora mamãe". Hmpf.