Aprender sempre...

Ser mãe é ter a humildade de aceitar-se como fonte de vida de um ser que não nos pertence e, ao mesmo tempo, é tão nosso quanto qualquer outra parte de nosso corpo. Ser mãe é colecionar pérolas diárias, e por que não? Compartilhá-las...

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Fofurices


Maridão está lá, sentado sossegado, de repente ganha abraço!!! Logo o olhar sapeca vai para a barriga proeminente. Segundos de silêncio esperando que classe de comentário será produzida... "Papai fofiiiiiiinhoooooooo" e mais abraço!!!! Sempre é surpreendente...

Aí a gente ensina, ensina... criança vira formiga, não tem jeito. Até a minha que sempre gostou mais de frutas, aprendeu a comer doce. Para dar uma freada aparecem histórias bem absurdas, afinal, passa longe de meus planos ensinar minha filha a ser uma neurótica contadora de calorias. Para controlar o doce, a pequena aprendeu que quem come doce demais vira bolinha de amora e pula-pula de Umpa Lumpa. Informação assimilada, agora as duas irmãs se controlam sozinhas.

Mas é claro que a pequena, no supermercado, vê uma pessoa que pecou em pecado de gula... E claro que ela se lembra da lição, e claro que ela fala em voz alta: "papai, aquele moço comeu muito doce, né?"

Depois disso, só tentando fazer dormir... E dormir desmamando é difícil, demorado, dolorido e cheio de vaidade. Pois é, vaidade. "Mamãe, não quero dormir porque meu olho vai ficar amassado". Ai, ai, ai... Eu ainda vou descobrir onde fica o baú de onde saem essas pérolas.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

A falta que ele me faz...


A gente casa (ou não, tanto faz) e um dia, depois de nove meses, vem aquela dor gostosa, uma experiência espantosa e um embrulho que faz "funhééééééé". O embrulho mesmo, depois de um ano e pouco, é que disse que os bebês fazem "funhé". Eu jamais teria capacidade para inventar isso.
Enfim, chega o pacote e acorda a onça. A mãe onça. Aquela mulher irritadiça, depressiva, chorona, cansada, possessiva que acha que fez o filho sozinha. Aquela mulher que rosna e que acha que é só mãe e mais nada. E que só ela sabe trocar. E que só ela sabe vestir. E que só ela sabe onde ficam as roupas (bom, isso é verdade). E que só ela ama perdidamente o bebê. E... e uma lista infindável de tarefas que a mulher toma para si sem oferecer para a outra metade sem a qual aquela obra prima encantadora não seria possível. E então entra o pai e pega o embrulhinho e... bom, ele se emociona. E toda vez ele faz a mesma coisa: pega o pacote e se emociona. E o pacote ri com ele sem esforço mesmo ele não tendo "tetê". A cena é linda, mas como assim? E dorme nos braços dele sem mamar? Mas ele nem ajuda a cuidar!! Ele só fica fora de casa trabalhando o dia todo, pagando contas, comprando comida, esquentando comida, comprando produto de limpeza, matando bicho, limpando a caca dos gatos! Nem tem tempo para cuidar do bebê!
E o tempo passa, a criança gruda na mãe, tudo quem tem que fazer é a mãe, o pai só leva pra escola todo dia e já vai trabalhar até tarde.
Nesse brinde entra mais uma criança e a mãe-filha-única fica perdida nessa relação absurda que é a fraterna sem entender lhufas dessas brigas em que ambas irmãzinhas se ressentem porque queriam ser entendidas pela outra. Diabos, essas meninas se amam ou se detestam? Que inferno! Vai ficar cada uma de um lado da casa pensando no que fez, e fica mais infame a situação ao se descobrir que elas estão chorando pela separação, não pela medida disciplinar... E vem ele de novo: você não teve irmãos... é assim mesmo, fala mais manso com elas. Quem é você pra me dizer para falar mais manso? Sou eu que fico aqui o dia todo aguentando isso enquanto você está fora...trabalhando. E de repente aquelas criaturinhas que provocaram a impaciência materna, do pai só arrancam ternura. E ele fala suave, abraça as pequenas, explica, pede obediência e como um passe de mágica elas voltam sossegadas para o quarto e vão brincar quietinhas e sorridentes. É um complô?? Ele nem tem tempo para ficar com elas e é assim que elas reagem? Ele pega suas coisas, volta para o trabalho depois de se atrasar para resolver uma situação de estresse feminino coletivo e pronto, parece que nada aconteceu, e fica a mãe de novo com a bomba na mão esperando explodir. E esperando, e esperando... Só ouvindo de tempos em tempos aquele "a que horas o papai volta?" das carinhas de bichinhos silvestres. E olhando aqueles olhinhos lindos, e pensando em tudo que eu não preciso fazer por ter quem faça por mim, eu acho que lá no fundo o orgulho besta baixa guarda e também se pergunta: "será que ele demora hoje?"

sábado, 1 de janeiro de 2011

Quando o burro velho fala, o novo levanta as orelhas...

Minha mãe já dizia, e repetia insistentemente: "quando o burro velho fala, o novo baixa as orelhas".
De pequena eu achava isso impressionante, porque era admirável que animais tivessem respeito por outros mais velhos. Com o tempo fui entendendo que era só uma forma metafórica de dizer "cala a boca".
Entendida a informação e promovida ao cargo de mãe, sou capaz de entender as mil formas que essa frase tinha e os infinitos contextos aos que se aplicava em minha infância. Falar parece ser regra para as crianças depois de um ano e nove meses. Aos adultos fica o consolo do silêncio sapiente e meditativo de quem toma consciência de sua tendência a perder espaço e voz.
Adulto entretanto é teimoso, né? E em uma tentativa de entablar uma conversa, sai o desabafo do chef de família- aqui é "chef" mesmo- que considerando a estrutura muito aberta do restaurante onde trabalha, responde à primogênita que questiona seu horário de regresso ao lar:"amanhã, se não chover, eu volto mais cedo". Eu não estava presenciando a cena, mas consigo visualizar os olhos arregalados e o muxoxo indignado que antecederam a pergunta: "papai, chove na cozinha do restaurante???"... sem comentários.
Minutos depois, uma fralda precisava ser trocada, e nem sempre essa tarefa é agradável por conta das diferentes variedades de material que pode nos brindar. Claro que a trocadora assídua de fraldas questiona a alimentação da criança que gera coisa tão duvidosamente consistente e grudenta e pergunta o que a criança comeu para fazer aquilo. E claro que nessa conversa de adulto de mudar de tema sem nem dar pisca-pisca na troca de pista, a sequência do diálogo foi desastrosa. Foi lembrado nesse momento de associação infeliz um cupcake que fora deixado pela metade e devorado pelo papai. "Puxa amor, você terminou de comer aquilo que eu estava comendo!"
Deixa da caçula: "Mamãe, você comeu meu cocôôôô?
Lição número 1: nunca chame nada de "aquilo" quando você estiver trocando fralda, porque tudo que é chamado de "aquilo", na cabeça da criança vira outro "aquilo"
Lição número 2: quer conversar com seu cônjuge? Se não for para falar de Backyardigans ou coisas da idade dos filhos, fique quieto.
Os burros velhos não deveriam nem falar.

sábado, 20 de novembro de 2010

Construindo MINHA torre de Paris.


Fim de semana daqueles que só acontecem a cada quinze dias. Fim de semana que tinha que acontecer todo dia. Filhas únicas com uma irmã em outra casa que se encontram e se relacionam como se convivessem diariamente. Será que se convivessem diariamente seriam tão boas irmãs??
A mais velha entrega uma bandeira do Peru à menor dizendo que fez na escola para dar-lhe de presente. A cena é ímpar. Até que a menor vê o bicho de pelúcia que a maior trouxe para compartilhar mas não quer emprestar... Entra a mãe no meio : "se não é pra emprestar, para que trouxe?" Conflito resolvido. O bicho é um cachorro que só não está mais pintado de canetinha por falta de espaço. Que conselho a mais velha dá ao emprestar o animal que será levado ao quintal??? "Cuidado para não sujar"... Alguém entende esses paradoxos? Sem dúvida aqueles rabiscos na pelúcia são sapatinhos e máscara, não são sujeira. Mas lá no quintal o cachorrinho de pelúcia perde o posto para os gatos de verdade, e a menor exaustivamente questiona a gata sobre o que ela está fazendo. A gata vai para o vizinho indignada com a invasão de privacidade!!!
De volta às irmãs, educações diferentes geram questionamentos razoáveis. Ferida pela mais velha, a menor pergunta: "mamãe, por que ela não me pediu desculpas??" E como a gente explica que há processos e processos e que basta mudar a casa, um dos pais, para que mudem os valores?? E como a gente dorme sabendo que fora de casa esses processos tendem a ser mais variados ainda? É doloroso ensinar peixe dourado a nadar com tubarões...
Ao longo da semana que seguiu, produziram-se pérolas mágicas e linguísticas. "Mamãe, a muriçoca está imatada". HEIN? Explica, filha... "Ela não tá esmagada, tá imatada" Mãe com cara de quem pariu uma enciclopédia, porque há 3 minutos a pessoa empilhou 10 livros e disse que fez a torre de Paris.
No domingo, papai saiu da cozinha do restaurante um minutinho só, só para saudar e precisava voltar. "Não vai, papai, fica aqui. A gente tem que ficar junto. A gente somos família". O estresse do papai pasou na hora, assim como a má vontade da mamãe em ir trabalhar depois de ouvir: "não vai, mamãe, já estou morrendo de saudade". Pacote amor completo? Quer mesmo? Ah... Pacote amor ganha lacinho quando a gente ouve assim: "Mãe emprestada, faz pastel em mim?" E eu vou, vou lá na caminha dela e enrolo com o cobertor como se fosse um pastelzinho. Deito e amamento a menor. Coração de mãe é assim. Briga e briga, mas ama muito. Mesmo sem ter parido.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Nunca estamos prontas


Entender que o filho não é nosso é uma coisa, colocar isso em prática é outra.
Um episódio simples de comportamento humano normal, mostra que mães super valorizam as coisas e não estão preparadas para nada... Mesmo dando o melhor de si para estar.
Pediram-me uma banana, e numa tentativa de promover independência, autorizei que se servisse sozinha. O pedido de descascar a fruta foi recusado, disse para fazê-lo sozinha também. Fez, descascou, tirou os fiapinhos e comeu. Procurou um saquinho de lixo sozinha também. Anunciou que queria outra e serviu-se sozinha. Resmungou qualquer coisa ao servir-se. Quando olhei para trás, partia a fruta no meio, estava passada. Não me pediu ajuda para isso... descobriu que conseguia. A fruta estava totalmente passada e apenas declarou que não queria comê-la. Separou-a e foi escolher outra. Após uma sequência frustrada de frutas excessivamente maduras, achou a fruta certa.
Ontem foi parecido...Na ida, amou os carrapichos que grudavam na roupa, mas o dente-de-leão estufadinho era assustador por algum motivo. Na volta, depois de comer sushi como gente grande, sem fazer careta ou rotular, quis pegar mais carrapicho e declarou valente: "vou bater no dente-de-leão". Subiu o barranco da pracinha e bateu. Em todos. Soprou feliz e jogou ao vento as sementinhas que voaram livres e alheias ao desafio que acabara de ser vencido...
Precisava descer o barranco, o coração de mãe aflito, ela ficaria com medo. Quem disse? Deu a mão, escorregou com o pezinho de lado como qualquer criança saudável sabe fazer e viemos brincar com as novas bonequinhas de pano.
A mãe dela, abismada com ela e consigo mesma... Sensação de estar perdendo alguma coisa que vale ouro, simplesmente por estar fazendo tudo certo...

sábado, 6 de novembro de 2010

Viver para aprender

Sabedoria infantil é algo que não podemos subestimar.
A criança aprende com o que vê e com o que temos paciência para explicar e ensinar, e o que se colhe depois é precioso. Mas é ensinado. Sábio é o que a criança faz sozinha.
Halloween passado. Depois de uma festa de bruxas com adultos, um encontro inusitado na rua proporcionou-nos uma celebração ainda melhor. Ao ir votar escutamos que um primo chama para um aniversário e nem imaginávamos as proporções que isso teria! Era um condomínio fechado que celebra o Halloween com toda sua beleza. Além de enfrentar lembranças da infância, ver as crianças de meu passado cerceando suas próprias crianças foi ímpar. Logo uma fantasia emprestada e alguns adornos da véspera improvisaram uma roupa assustadora para meu catatau e fomos pelas ruas dando opções:"doces ou travessuras?" Claro que foram por água abaixo meus temores de que tão pequena criatura não se adaptasse ao festejo. Já na segunda casa, a pequena aprende a abrir sua sacolinha para receber doces e se não contemplada insistia até que fosse sua vez. Sabedoria infantil que não se ensina.
Nem tudo são doces nessa vida, mas as lembranças dos doces ficam, e alguns dias depois, a pequena se lembra da fartura de açúcar dos dias anteriores, em particular do Halloween adulto ao que fora de camiseta preta como roqueira. "Mamãe, quero comer como oeia". Pronto, ia começar mais um momento de "adivinha o que ela disse". "Você quer comer como o quê?" "Oeia, mamãe." Comer orelha já era demais. De onde saíra aquilo? "Comer orelha, filha?" "Oeia não, mamãe, oeia!" Pronto, a conversa estava ficando delicada. "Ok, bebê, explica para a mamãe o que é essa oeia, porque eu não estou entendendo". E fiquei segura de que o dilema não terminaria. Ledo engano... Com toda a paciência do mundo, a pequena coloca a mão na orelha e explica: "mamãe, isso é oeia. Eu estou falando de OEIA" e aponta para minha camiseta preta... Era da "roqueira" que ela estava falando... e ela soube fazer-se entender, queria empanturrar-se de doces e o peito inflado orgulhoso de mãe quase explodiu...
Pouco tempo depois, as notícias vieram pesadas, com a bisa indo pro hospital uma vez mais e eu, neta desolada, expressando minha tristeza na íntegra. "Mamãe, porque você está triste?" "Porque a Baba, sua bisa, está doente, está querendo ir embora e eu estou preocupada". "Está tudo bem, mamãe, não fica triste. O vovô e a vovó virão buscar a Baba e ela vai ficar bem e todo mundo vai ficar junto". Passado o susto da lição que acabara de aprender com o ser que há pouco tempo chegou a mim, fiquei pensando que se isso era fato, eu havia entendido porque a Baba resistiu mais um pouco: ela não se deixaria resgatar pelo ex genro...
A memória para fatos e nomes, as lembranças que não se vão, a avó que sobrevive como se rondasse a casa, as reclamações coerentes ao levar uma bronca... Tudo leva a crer que ainda falta muito para crescer. Para eu crescer. Ninguém é totalmente adulto antes de trazer um filho ao mundo e amadurecer com ele.
Filho é o tipo de acontecimento que deve nos fazer pensar, no último suspiro, que realmente valeu a pena ter passado por este mundo.

sábado, 2 de outubro de 2010

Conversa de banheiro.


Essa é breve, mas a postagem se faz urgente. Momentos filosóficos no banheiro, depois da chegada de uma criança, deixam de ser meditativos e de revisão do dia para transformar-se em caixinhas de surpresa. O simples fato de não poder estar sozinha "reinando" já é desconcertante...
Enfim, aí estamos lá, resignados com a companhia que nos mantêm ocupados enquanto nos equilibramos entre fazer o que fomos fazer e tirar das ávidas mãozinhas tudo que pode ser quebrado, derrubado e bebido. Eis que na tentativa de pedir um empréstimo, a pessoinha pede devolvido o pacote de absorventes. Negado. E ainda seguido da correção devida que troca "me devolve" por "me empresta". Não adianta dizer que não. "Me empresta para eu usar, mamãe, só um pouquinho suas fraldas. É pra eu fazer xixi."Lá vai a conversa se esticar. E com toda a paciência do mundo a mamãe tem que explicar que a "fralda" em questão não segura xixi, é pra outra coisa. Claro que logo precisa explicar qual outra coisa. Mas o pacote rosa choque é deliciosamente chamativo e a pessoa decide que precisa dele porque já usa esse tipo de produto.
"Filhinha, ainda não querida, você só vai precisar dessas coisas quando for alta como a mamãe, grandona, quando tiver tetê..." "Eu tenho tetê". "Tetê grande, filha...Quando você for toda grande". Olhos brilhando, sorriso de criança crescendo e de repente me deu um frio na espinha. Ai.
"Ah, então eu vou usar fralda da mamãe quando eu for grande!" "Sim, querida". "Quando eu crescer eu vou ter tetê grande que nem a mamãe e meu pipi vai crescer igual o do papai". HEIN? "Você vai ter pipi, filhinha?""Sim, mamãe, e meu cabelo vai ser careca igual ao do papai, assim, aqui dos lados".
Eu vou entender isso como uma declaração de amor escancarada de quem admira loucamente os próprios pais, e passar os próximos 13 anos rezando para que essas transformações não se concretizem nela. Nada mais a declarar...